Senhor Vento

Olho lá para fora e sinto o chamado para estar lá fora.
Sentir o frio de Inverno, que não é muito frio.
Numa mudança repentina de temperatura... ainda ontem os ventos vinham de África.
Respiro fundo e sinto o coração a bater em uníssono com o coração da terra.
Um coração quente, de essência, de verdade e de amor.
A chuva começa a cair.
A Lara e a Missanga (as nossas gatas) sentem o mesmo impulso e vão lá para fora.
A chuva cai miudinha.
Refresca tudo.
Tudo está tão seco!





E lembro o vento de ontem.
Forte e instantâneo, misterioso.
A ciência diz que é por vivermos num vale.
Este vento tem uma vida misteriosa, para mim. Repentina, que vai e vem em segundos.


Toca profundamente qualquer um@.
Em segundos move os resíduos de plástico prontos a irem para os contentores de reciclagem e fecha a porta da caravana com uma violência extrema que amedronta. Assusta, porque não se está a contar com este impacto forte, repentino e violento.
Este vento é assim.
Não avisa a sua vinda, mas comunica.
E o que comunica ele?

Sento-me e respiro bem profundamente.
Atento à inspiração e à expiração.
Relaxo os músculos.
Observo os pensamentos que vêm e deixo-os ir, sem me ligar a eles.
Se isso acontecer, volto à presença que me é natural e continuo.
Continuo a ser e a estar assim: nada e tudo.
Presente, sem ir na tentação de ir ao passado ou futuro.
Só tenho agora.
E atento apenas à respiração.
O corpo começa a relaxar mais e mais.
Atento ao bater do coração.
Sinto-o rápido. Vou respirando fundo e percebendo que ele vai desacelarando.

Quero agora ouvir o coração do vento.
Bate tão forte. Parece diferente do meu.
Vejo que me apercebo diferente do vento, porque lhe tenho medo.
Fico apenas com isso e continuo a respirar.

Respiro, sou respirada.
Oxigénio, ar, vento.
Sou una com o vento e sinto os nossos corações a quererem bater em uníssono.
Permito-me à conexão.
E não sinto agora uma pressa ou necessidade de dois corações a quererem bater igual.
Sinto um coração.
Forte, assertivo.

E viajo como vento.
Por todo o lado.
Que liberdade é esta?
Vejo tudo, do mais pequeno pormenor a uma visão grande de tudo ao mesmo tempo.
Uma perspectiva lá de cima ou do interior da terra.
Sinto as penas das aves e a textura das folhas das árvores.
A pele de uma criança e as mãos de um agricultor.
De repente estou na água e corro rápido, rápido.
Já sou chuva e caio e balanço.
Vou e sou para todo o lado.
E sinto que quero ir muito muito rápido e paro de repente.
Só porque sim.
Apenas sou, sem querer alguma coisa específica.
Não tenho razão, apenas me deixo ir.
Sigo um instinto que me vem das entranhas.

Respiro profundamente, com o coração cheio de gratidão por esta oportunidade.
Com uma sensação de extrema calma e presença.
Porque o vento é uma expressão de vida e liberdade.
Apenas isso.

Grata por esta experiência e por este entendimento.
Que não é fixo, mas profundamente transformador.
Que viagens fará mais o vento?



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