Tradições
“Ó que lindo luar está,
Para apanhar a marcela.
Apanha, menina apanha,
Faremos a cama nela.”
As cantilenas com plantas são populares em Portugal e
remetem-nos à ligação íntima e única entre a Natureza e as pessoas. Por medo de
incompreensão ou mesmo de conotações perjurativas, e falta de interesse, estas
cantilenas, mezinhas e sabedorias ancestrais foram-se perdendo ou escondendo
num lugar bem fundo: o esquecimento.
É essencial recuperar estas tradições, não só porque são e
representam a alma portuguesa ancestral, mas porque iluminam e mantêm viva a
verdade que não há qualquer divisão entre as pessoas e os elementos Naturais.
Não há natureza e pessoas por si só individualizados, mas uma magia que
acontece quando a ilusão se dissipa na vontade de ser aquilo que se é e na
consequente acção.
Numa vida simples de olhar, sentir e ouvir aquilo que nos
rodeia, com calma e uma focada atenção que descansa na relação de confiança
entre o ser humano e os animais, plantas, solo, rochas, minerais e seres
invisíveis.
Nesta confiança vive a verdade, sem medo nem expectativas.
É-se apenas.
A floresta, com todos os seus elementos não só apoia o nosso
profundo ser, como está disponível para a nossa evolução como indivíduos e como
sociedade. Se houver confiança neste relacionamento e aceitação das
circunstâncias reais e naturais, a expressão da união bela, simples e mágica
entre tudo será aquilo que acontece e que revela uma paz inerente e
profundamente feliz e prazerosa.
Como seria o mundo se houvesse respeito constante?
Como seria o mundo se todos nós nos ajoelhássemos no sagrado
resplendor que se vê num bosque e o identificássemos como parte de nós?
Como seria o mundo se todos nós abraçássemos a delicadeza, a
força, a coragem, o amor, o brilho e a entrega que não só vemos num bosque, mas
que nós somos na nossa profundidade?
Como seria o mundo se retomássemos as cantilenas
tradicionais que os nossos ancestrais tão simples e amorosamente cantavam de
coração, quando iam para o bosque e passavam os seus dias a serem, a
trabalharem e a responderem à vida?
Por agora, derretida nestas contemplações, desejo uma noite
de luar para a marcela apanhar e, mais tarde, nela me deitar.
~
“Oh what a beautiful moonlight is,
To gather the mayweed.
Pick, girl, pick,
We will make the bed on it.”
The little plant songs are popular in Portugal and take us
to the intimate and unique connection between people and Nature. By fear of
being misunderstood and for lack of interest, these songs, prayers, recipes and
ancestral wisdom have been lost or hidden in a deep place: the forgetfulness (oblivion).
It’s essential to recover these traditions, not only because
they are and represent the Portuguese ancestral soul, but because they shine
and maintain alive the truth that there is no division between people and the
natural elements. There is no Nature and people by itself, individualistic, but
they exist in a magic that happens when the illusion dissipates in the will to
be what one is and in the consequent action.
In a simple life of looking (seeing), feeling (sensing) and
listening everything that is around, with calmness and a focused attention that
rests in the trust relationship between the human being and the animals,
plants, soil, rocks, minerals and invisible beings.
In this trust lives the truth, without fear or expectations.
One is.
The forest, with all it’s elements not only supports our
deepest being, but she is available as well for our evolution as individuals
and as society. If there is trust in this relationship and acceptance of the
real and natural circumstances, the expression of the beautiful, simple and
magical unity of everything will be what happens and that reveals an inherent
and profoundly happy and pleasurable peace.
How would the world be if respect would be constant?
How would the world be if all of us would be in our knees in
the sacred that you see in woodland and would identify it as part of us?
How would the world be if all of us would embrace the
softness, the strength, the courage, the love, the shine and the surrender that
we don’t only see in woodland, but that we are in our depth?
How would the world be if we would recapture the traditional
plant songs that our ancestors sang with their hearts in a simple and loving
way, when they would go to the woodland and be there for the day to be, to work
and to respond to life?
For now, melting is these contemplations, I wish a moonlight
night so I can pick the marcela, and
then lay down in it.
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