Javalis

 



Este foi um momento especial e cujo efeito ainda rebola aqui no corpo.

Há duas semanas que os javalis retornam noite sim, noite não aqui ao terreno.

Seja na área protegida pela rede onde cresciam vegetais ou mesmo na área das galinhas, os javalis têm entrado e feito das suas.



A noite passada decidi dormir de novo na horta, na cama de rede, acompanhada pelo Mateus, pois claro.

Desde as 22h até às 02h30 foi o tempo que por lá ficamos. Ficamos cheios de frio e decidimos voltar às nossas camas em casa. Mas estas horas foram recheadas de uma experiência profunda, a qual não sei  explicar! Sempre que os ouvíamos no riacho, eu falava alto e acendia a lanterna e o Mateus ladrava. De olhos fechados, mais para lá do que para cá (uma experiência de êxtase inexplicável), eu via a face de uma javali. De nariz bem pontiagudo, face escura, eu vi-a/o mesmo em frente aos meus olhos. Como se fossemos um só. Nós somos um só! Estar a dormir lá fora leva-me a outra dimensão - uma dimensão real. Senti-os, mais uma vez no meu peito. Foi, é incrível!

Quando acordei naturalmente, por volta das 6h, senti um impulso gigante em ir lá fora ver se eles tinham entrado na horta depois de eu e o Mateus termos saído. Não entraram. Fui ao galinheiro e vi algo preto em frente à porta da segunda área. Porra, entraram e mexeram no balde preto. Aproximei-me para ver os estragos e não quis acreditar: não era um balde, mas uma javalina e as suas crias! Num segundo senti choque, perguntei-me o que fazer: gritar? E será que eles fugiriam na minha direcção? Para onde podia eu fugir? E no próximo segundo decidi fazer um som bem alto para eles saberem que eu estava ali. A velocidade desta família foi algo inacreditável! eles fugiram na direcção oposta. A javalina teve uma força tão incrível que furou a rede num ápice e os filhotes seguiram-se, mas um deles ficou para trás. ele não conseguiu fugir. Ele tentou de todas as maneiras sair. Eu fiquei com ele. E comunicava, vai para o outro lado, vai, a tua ma~e deixou lá um buraco. Vai! E passados uns minutos ele conseguiu sair. 

Durante todo o contacto com esta família eu reconheci aquela face, foi a face que vi durante a noite, de olhos fechados. Nós somos um. Eu e javalina, e os pequenos javalis. Compaixão. Força. Protecção. União. Família. Medo. Em nenhum momento eu senti raiva ou zanga. Eu senti o poder e a força do Javali. E senti que eu sou essa força. 

Durante o dia esqueci-me disto e quando me lembrava parecia que tudo estava a acontecer de novo.

Como vai ser esta noite?

Vou comunicar convosco de novo e sentir-vos e deixar-me ser sentida por vós. 

Como vivemos juntos sem destruição dos nossos cultivos e construções, sem as galinhas sentirem?

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